Consulado Geral da Itália em Porto Alegre fortemente atingido pela enchente
A enchente que assolou o estado
do Rio Grande do Sul neste mês de maio, causando destruição em diversas regiões
e mais de 150 mortes, também atingiu as instalações do Consulado Geral da
Itália em Porto Alegre, no bairro Meninos Deus, próximo às margens do Guaíba. “Eu
me comprometo pessoalmente a dar prioridade para refazer todos os documentos
que as pessoas perderam” disse o cônsul geral Valerio Caruso, comprometendo-se
em “recuperar o consulado o mais rápido possível”. Na tarde do último dia 6, Caruso publicou nas
redes sociais, um vídeo onde aparece com água até praticamente a cintura, na
porta do consulado. Desde então tem se empenhado em garantir que fará o que
puder “para ajudar a todos na medida do possível”.
Em um bate-papo organizado pela
Revista Insieme, onde estiveram presentes a conselheira do Brasil no CGIE –
Conselho Geral dos Italianos no Exterior, Stephania Puton; a presidente do
Comites-RS, Cristina Mioranza, a vice-presidente Rosária Anele e a conselheira
Neiva Cantarelli, o cônsul afirmou: “Se dependesse de mim eu reabriria o
consulado agora mesmo, só que não somente eu tenho a responsabilidade pela
saúde e a segurança dos meus funcionários, mas também pela saúde dos usuários,
a gente tem mais de 150 pessoas entrando cada dia no consulado.” O Cônsul
também destaca: “Agora a prioridade para nós é recuperar o nosso Consulado,
porque claramente sem o meu escritório, sem acesso à nossa administração, somos
soldados sem armas.”
A expectativa é que os serviços
ao público sejam retomados a partir de 4 de junho, conforme declarou o cônsul. Sem
poder estimar com precisão a reabertura do Consulado, Caruso reitera que
depende de outros fatores para retomar as atividades, pois muito embora a água
já tenha sido drenada por uma bomba emprestada por um hospital, o prédio ainda
se encontra sem água e sem luz, mesma situação enfrentada pessoalmente pelo
cônsul em sua residência, que revelou estar a 15 dias sem água no seu
apartamento.
Não bastasse todas as perdas envolvidas,
a questão documental também terá reflexos quando a situação se normalizar. Isto
porque diversos cartórios em todo o Rio Grande do Sul foram atingidos, a
exemplo do Cartório de Galópolis, bairro de Caxias do Sul, um dos berços da
imigração, que “foi arrastado pela terra”, segundo Cristina Mioranza,
presidente do Comites – Comitato degli Italiani all’Estero, do RS. Cartório
este, que foi auxiliado pelo nosso escritório para a recuperação dos livros e
registros danificados.
Em virtude destas circunstâncias,
quem está em busca de documentação para o reconhecimento da cidadania italiana iure
sanguinis poderá enfrentar dificuldades, caso o cartório ou paróquia onde
as certidões se encontrarem tiver sido atingido e não possuir os documentos
previamente digitalizados. E para estes casos, o cônsul asseverou que trabalhará
em conjunto às autoridades para minimizar os possíveis percalços: “Falarei se
for necessário com o nosso secretário de Justiça do Governo do Estado, para
fazer com que o Judiciário Gaúcho seja solidário com todos os nossos
descendentes que estão procurando a documentação para fazer a cidadania e que
perderam alguns dos documentos necessários. Então isso eu posso assegurar que,
por parte do consulado vai ter a máximo proatividade, a máxima disponibilidade em
ajudar, também com as autoridades locais.”
Para quem possuía agendamento de serviços
no Consulado, Stephania Puton esclarece: “Todas as pessoas devem ficar
tranquilas que elas vão receber um e-mail, no momento em que o consulado
reestabelecer os serviços, o consulado vai reagendar na medida do possível
essas pessoas encaixando diariamente. Inclusive [...] reestabelecer a ordem de
1.400 a passaportes ao mês, mais a entrega de documentos de cidadania,
documentos de vistos e declaração de valores para quem precisa estudar e tudo
mais.”
Outro ponto destacado por
Stephania refere-se à reconstrução de documentos perdidos pelos Cartórios nas
enchentes: “Um outro argumento que eu acho que a gente tem que pensar nesse
momento é a reconstrução dos atos das certidões que muitas foram perdidas. E a
gente sabe [...] o Judiciário é muito sensível nesse sentido, basta que a gente
apresente provas concretas [para a reconstrução]. O Judiciário nunca se opôs à
reconstrução desses atos, dessas certidões e eu acredito que a principalmente a
partir desse momento isso [também] vai acontecer.
Vale destacar que a reconstrução
mencionada, chamada de suprimento de certidão civil, é uma alternativa valiosa
no processo de cidadania, na medida que existem muitos registros que são
perdidos por extravios ou infortúnios, como o famoso incêndio em 27 de Maio de
1.909 no Cartório de Garibaldi, antiga Colônia Conde D’eu, responsável por
todos os registros da 1ª Colônia Italiana, que compreendia também os municípios
de Carlos Barbosa, Coronel Pilar e Imigrante.