Notícias

Consulado Geral da Itália em Porto Alegre fortemente atingido pela enchente

“Eu me disponibilizo para refazer todos os passaportes [italianos] que foram perdidos por causa da enchente”, declara o Cônsul Valério Caruso
21/05/2024
Anterior Próximo

A enchente que assolou o estado do Rio Grande do Sul neste mês de maio, causando destruição em diversas regiões e mais de 150 mortes, também atingiu as instalações do Consulado Geral da Itália em Porto Alegre, no bairro Meninos Deus, próximo às margens do Guaíba. “Eu me comprometo pessoalmente a dar prioridade para refazer todos os documentos que as pessoas perderam” disse o cônsul geral Valerio Caruso, comprometendo-se em “recuperar o consulado o mais rápido possível”.  Na tarde do último dia 6, Caruso publicou nas redes sociais, um vídeo onde aparece com água até praticamente a cintura, na porta do consulado. Desde então tem se empenhado em garantir que fará o que puder “para ajudar a todos na medida do possível”.

Em um bate-papo organizado pela Revista Insieme, onde estiveram presentes a conselheira do Brasil no CGIE – Conselho Geral dos Italianos no Exterior, Stephania Puton; a presidente do Comites-RS, Cristina Mioranza, a vice-presidente Rosária Anele e a conselheira Neiva Cantarelli, o cônsul afirmou: “Se dependesse de mim eu reabriria o consulado agora mesmo, só que não somente eu tenho a responsabilidade pela saúde e a segurança dos meus funcionários, mas também pela saúde dos usuários, a gente tem mais de 150 pessoas entrando cada dia no consulado.” O Cônsul também destaca: “Agora a prioridade para nós é recuperar o nosso Consulado, porque claramente sem o meu escritório, sem acesso à nossa administração, somos soldados sem armas.”

A expectativa é que os serviços ao público sejam retomados a partir de 4 de junho, conforme declarou o cônsul. Sem poder estimar com precisão a reabertura do Consulado, Caruso reitera que depende de outros fatores para retomar as atividades, pois muito embora a água já tenha sido drenada por uma bomba emprestada por um hospital, o prédio ainda se encontra sem água e sem luz, mesma situação enfrentada pessoalmente pelo cônsul em sua residência, que revelou estar a 15 dias sem água no seu apartamento.

Não bastasse todas as perdas envolvidas, a questão documental também terá reflexos quando a situação se normalizar. Isto porque diversos cartórios em todo o Rio Grande do Sul foram atingidos, a exemplo do Cartório de Galópolis, bairro de Caxias do Sul, um dos berços da imigração, que “foi arrastado pela terra”, segundo Cristina Mioranza, presidente do Comites – Comitato degli Italiani all’Estero, do RS. Cartório este, que foi auxiliado pelo nosso escritório para a recuperação dos livros e registros danificados.

Em virtude destas circunstâncias, quem está em busca de documentação para o reconhecimento da cidadania italiana iure sanguinis poderá enfrentar dificuldades, caso o cartório ou paróquia onde as certidões se encontrarem tiver sido atingido e não possuir os documentos previamente digitalizados. E para estes casos, o cônsul asseverou que trabalhará em conjunto às autoridades para minimizar os possíveis percalços: “Falarei se for necessário com o nosso secretário de Justiça do Governo do Estado, para fazer com que o Judiciário Gaúcho seja solidário com todos os nossos descendentes que estão procurando a documentação para fazer a cidadania e que perderam alguns dos documentos necessários. Então isso eu posso assegurar que, por parte do consulado vai ter a máximo proatividade, a máxima disponibilidade em ajudar, também com as autoridades locais.”

Para quem possuía agendamento de serviços no Consulado, Stephania Puton esclarece: “Todas as pessoas devem ficar tranquilas que elas vão receber um e-mail, no momento em que o consulado reestabelecer os serviços, o consulado vai reagendar na medida do possível essas pessoas encaixando diariamente. Inclusive [...] reestabelecer a ordem de 1.400 a passaportes ao mês, mais a entrega de documentos de cidadania, documentos de vistos e declaração de valores para quem precisa estudar e tudo mais.”

Outro ponto destacado por Stephania refere-se à reconstrução de documentos perdidos pelos Cartórios nas enchentes: “Um outro argumento que eu acho que a gente tem que pensar nesse momento é a reconstrução dos atos das certidões que muitas foram perdidas. E a gente sabe [...] o Judiciário é muito sensível nesse sentido, basta que a gente apresente provas concretas [para a reconstrução]. O Judiciário nunca se opôs à reconstrução desses atos, dessas certidões e eu acredito que a principalmente a partir desse momento isso [também] vai acontecer.

Vale destacar que a reconstrução mencionada, chamada de suprimento de certidão civil, é uma alternativa valiosa no processo de cidadania, na medida que existem muitos registros que são perdidos por extravios ou infortúnios, como o famoso incêndio em 27 de Maio de 1.909 no Cartório de Garibaldi, antiga Colônia Conde D’eu, responsável por todos os registros da 1ª Colônia Italiana, que compreendia também os municípios de Carlos Barbosa, Coronel Pilar e Imigrante.